Monday, April 10, 2006

E que tal um novo Fim da História?


Quando esteve eminente a guerra no Iraque, os execrados realistas políticos eram quase tão execrados como os fervorosos neo-cons. O mais comum dos mortais, aliás, nem os distinguia: não tinham princípios, eram belicistas, ponto final. Acontece que os realistas políticos, sob a égide de pensadores cínicos como Kissinger (só para citar um clássico recente), foram dos primeiros a contestar a guerra contra Saddam, alegando que a história dos últimos 30 anos demonstrava que aquele odiado ser era passível de “contained”. Ninguém parace ter prestado atenção a isto: pior que os neo-cons e os apologistas dos falcões do pentágono, eram estes “homens sem princípios nem ideologia”, herdeiros de um pensamento “ultrapassado” datado da Europa do século XIX e do sistema bipolar da guerra fria.

Durante a década de 90, o excessivo dinamismo da globalização fez muitos pensar que as ideologias tinham conhecido o seu termo na história (Fukuyama). O 11 de Setembro veio pôr água na fervura dos saudosistas da ideologia, e as diferenças entre esquerda e direita ganharm um novo fulgor com as fissuras causadas pela guerra do Iraque, entre os “a favor” e os “contra”. Agora, que o preço do petróleo corre em direcção aos 80 dólares por barril, e as economias europeias e americana sofrem os consequentes efeitos, eis que verificamos um desejo premente das pessoas pela “não-ideologia”, e pela “economia pura”. Em Portugal, isso começou com a derrota do “filósofo” Manuel Maria Carrilho na corrida para a câmara de Lisboa contra o “técnico” Carmona Rodrigues, prosseguiu com a cavalgada reformista de pendor direitista do governo Sócrates e brilhou com a vitória histórica do tecnocrata Cavaco Silva.

Na América, por seu lado já se vão percebendo as diferenças entre os realistas políticos e os neo-cons. Redescobre-se uma das permissas fundamentais sempre olvidadas do realismo político em Relações Internacionais: a paz… pelo equilíbrio. Assim, o livro do general Tony Zinni, reformado oficial da Marinha com larga experiência de comando no Médio Oriente e no Sudeste asiático, livro este devidamente anunciado pelo Washington Post, vem também anunciar esta mesma tendência. Cite-se: "The real threats do not come from military forces or violent attacks; they do not come from a nation-state or hostile non-state entity. They do not derive from an ideology (not even from a radical, West-hating, violent brand of Islam). The real new threats come from Instability. Instability and the chaos it generates can spark large and dangerous changes anywhere in the land."

Se tudo corer bem para nós, que nos tornamos cada vez mais conservadores sem o sabermos, (“abaixo a instabilidade do CPE!”, grita a juventude francesa), os próximos 30 anos serão definitivamente os anos dos burocratas obedientes, dos juristas, dos economistas e dos tecnocratas anti-ideológicos. A guerra passará definitivamente a desenrolar-se no plano civil e com outras armas, sem balas, mas com muitos dólares e euros para ajudar à festa.

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