Tuesday, April 11, 2006

"E-Rumor": nova arma das empresas portuguesas



Há dias recebi uma chain letter no meu Outlook intitulada “POWERLINE (PLC) - Mais uma desgraça para a humanidade”, assinada por um tal “Eng. Augusto Albuquerque” que, entre outras coisas acusava a tecnologia Powerline (PLC) de contribuir seriamente para o cancro, justificando devidamente com uma série de indícios técnicos tão alarmantes convicções. Aconselhava o mesmo mail que se passasse a mensagem e que se continuasse a dar preferência ao ADSL, a fim de matar no ovo tão tenebrosa conspiração orquestrada pela ONI e pela sua principal accionista, a EDP. Um dos últimos utilizadores de email da cadeia apenas acrescentara ao enviá-lo para a sua mailing list: será verdade?

Pouco depois, descobri este blogue: http://www.powerline.blogspot.com/, realizado pela equipa técnica da Powerline, rebatendo um por um os argumentos daquele mail, fazendo inclusivamente referência a resoluções oficiais das instituições comunitárias competentes desmentindo qualquer risco desta tecnologia de Internet emergente, que permite a provisão de telefone e Internet unicamente pela corrente eléctrica, e que está em fase experimental em algumas zonas do país, como Telheiras.

Entretanto, vim a saber que a Via Verde também fora vítima há um ou dois meses atrás deste mesmo expediente de boatos via Internet, acusando aquela empresa de práticas fraudulentas na gestão comercial com os seus clientes. Também o boato teve a impacto suficiente para que a Via Verde publicasse no seu site, a 24 de Fevereiro, um desmentido, e advertindo que “irá proceder judicialmente contra os autores deste boato anónimo e difamatório e contra quem promover a sua difusão.” (É motivo para perguntar se futuramente seremos vítimas de violação de correspondência electrónica, ou algo semelhante. Juristas da Comunicação, que me dizeis sobre o tal assunto?).

Em todo o caso, está visto que o rumor via Internet constitui uma arma crescentemente relevante no campo de batalha empresarial em Portugal. As empresas não lhes podem ser indiferentes, e essa impossibilidade de indiferença representa novos custos, e se estes continuarem a crescer podem significar uma nova área de negócio a despontar: a gestão do risco informacional, a protecção contra ataques de natureza informacional, dirigidos contra reputações. Numa sociedade em rede, o spin do mundo da política, assim como a contra-informação, do mundo militar e da intelligence, passam cada vez mais para o mundo das empresas, numa época em que o desenvolvimento das telecomunicações galopa freneticamente.

Isto porque o fenómeno dos rumores via Internet não são passíveis de gozar necessariamente de um crescimento exponencial, como demonstra nos seus trabalhos o eminente especialista na matéria, Pascal Froissard, que afirma convictamente ser o feómenos dos rumores uma construção social, historicamente desenvolvida, e não um dado natural da vida em sociedade. A demonstrá-lo, o autor chama a atenção para a evolução durante os anos 90 da relação entre o número de sites de rumores e o número total de sites na web. Enquanto o segundo tipo prossegue o seu crescimento exponencial, o primeiro demonstra sinais de estagnação. Para este efeito, alega Froissard, muito contribuiu o esforço, muitas vezes gratuito, de sites “anti-rumor”, como é o caso ilustrativo do hoaxbuster.com, entre muitos outros

Este novo fenómeno emergente está para o mundo empresarial como o fenómeno do terrorismo global esteve para a política internacional, na medida que que este alterou radicalmente o modo de fazer a guerra pelos Estados. Assim também esta nova “guerrilha da informação” vem trazer o mesmo tipo de problemas às empresas num ambiente de capitalismo cada vez mais hostil. Qual a proveniência dos ataques? Serão organizados, ou acidentais? Qual é o rosto destas novas ameaças, e como impedir a sua propagação quando cada vez mais pessoas acedem à Internet?

No caso da difamação da Powerline (como aliás, no da Via Verde), é impossível saber a origem. Mas é óbvio que se trata de um ataque contra a ameaça de uma tecnologia de Internet que actualmente favorece única e exclusivamente quem for participado pela eléctrica portuguesa – a EDP - que, por sua vez, ainda desfruta de um quase monopólio no mercado português, sobretudo junto aos grandes centros urbanos do litoral, que albergam mais de metade da população portuguesa. A empresa beneficiada com a introdução do Powerline no mercado das telecomunicações é obviamente a ONI, e os sócios da EDP (sobretudo o Millenium bcp). O maior perdedor é a PT, que espera assim que o Mibel se torne uma realidade o mais brevemente possível, antes que a nova tecnologia que garante entre 1MB e 2MB de upload passe da fase experimental para a venda em massa.

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