Friday, May 19, 2006

Patriotismo Económico: conceito difícil para mentes lusas

1. Nos últimos dois dias houve um simpósio na Academia Militar, na Gomes Freire, sobre Intelligence Competitiva e Guerra da Informação. Uma uma assistência algo bocejante de militares e alguns quadros intermédios de grandes empresas foi espelho do estado de alerta da nossa economia a estas novas necessidades. Na verdade, o simpósio daria um certificado de prsença a quem se pré-inscrevesse previamente. É claro que muita gente foi para lá picar o ponto. E sentiu-se isso quando os supostos "debates" depois das intervenções não passaram de umas meras questões desenxabidas, sem irem aos pontos fulcrais de assuntos tão urgentes.

A um dado momento lá decidi intervir, com a maior sobriedade possível, sobre a realidade da "guerra cognitiva", e mais especificamente sobre o "e-rumor" e apossibilidade que hoje temos de deitar por terra a reputação de uma empresa portuguesa com uma estratégia de difamação electrónica bem montada, de que falei alguns posts acima, parecia que a assistência tinha acordado. Particularmente os quadros empresariais. Foi-me pedido que abreviasse a minha intervenção (que ia em pouco mais de 2 minutos), acedi, mas com o tempo, percebi que o meu tom, honesto, directo e apelando a um sentido de urgência, fora entendido pelos nossos altos guardiões da soberania do Estado como algo "agressiva", sobretudo para alguém quem nunca assumiu nenhum papel militar para além daquele que lhe pediram para além da inspecção.

2. Decepcionante foi, a meu ver, a intervenção do brilhante e ultra-premiado prof. Carvalho Rodrigues, que abusou da sua virtude em ter por hábito ver em toda a sua matemática investigação científica uma pista para grandes dissertações humanistas. Que até hoje lhe têm sempre valido inúmeros aplausos em todas as suas aparições públicas, desde este tipo de simpósios, até aos talk-shows do Herman José. Mais as inúmeras condecorações de Estado.

Com mérito. Inegável. O homem é intelectualmente prolífico e estimulante, um génio da Renascença, e sem dúvida uma pessoa interessante de se conhecer. Mas como consultor da NATO a dar um simpósio sobre o fenómno da guerra da informação, o dr. Carvalho deveria ter deixado as interpretações humanistas, e ter referido - caso soubesse - todos os conceitos fundamentais desta realidade que já ultrapassam desde há muito o estrito âmbito militar. Apenas nos últimos 3 minutos, referiu a realidade do adensamento das redes de comunicação entre núcleos e organizações terroristas internacionais a nível global, causado por uma falta de patrulhamento destas novas vias de comunicação da sociedade informacional.

Disrupção de redes - nem uma palavra; Perception Management - nem uma palavra; SPIN militar ou relações entre militares e jornalistas - nem uma palavra; Ataques informacionais - nada; aplicação disto a nível empresarial - .....

Não poderia o dr. Carvalho dar muita importância a isto, quando afirma que a informação que nos é dada pelos telejornais de hoje é totalmente irrelevante, no sentido em que apresentam realidades perante as quais as pessoas não podem fazer mais nada a não ser usar isso como tema de conversa do dia-a-dia. Como os mortos no Iraque (Ó membros gratuitos das associações de voluntariado, depois disto, é melhor voltarem para casa e repousarem-se, de preferência sem ligar a TV!). Depois, refere os blogues como um fenómeno "apenas para os amigos". Tb existe literatura e documentação online sobre o emergente papel dos blogues e sobretudo das redes de blogues, como contra-poder informativo e igualmente como fontes cada vez mais relevantes de Intelligence, estratégica económica. Para quem quiser ler... é assaz relevante.

3. Da intervenção do prof. Borges Graça, retive a expressão "patriotismo económico", que lá arrancou alguns acenos de cabeça nalguns participantes mais garbosos. Com efeito, após o 25 de Abril, a expressão "pátria" passou a ter conotação fascista. Apenas Manuel Alegre veio lançar uma pedra nesse charco discursivo político, durante estas últimas presidenciais. Onde é que já se tinha visto um político da esquerda a bradar a espada da pátria aos céus da mediatização?
Coisa rara. Já o mesmo não acontece noutros países como em França. Aquela que é apontada como a possível primeira Presidente da República feminina no hexágono, Ségolène Royale, mulher do actual presidente do PSF, François Hollande, concedeu ao jornal L'Echos a sua visão sobre o "patriotismo económico", que foi pela primeira vez utilizada com incisão pelo actual governo de direita:

"C'est le détournement d'un mot qui signifie aimer et servir son pays. Pour le gouvernement, qui ne s'alarme guère de la présence massive de fonds anglo-saxons au capital des entreprises françaises, c'est un gadget langagier qui couvre la privatisation de Gaz de France et tourne le dos à la constitution nécessaire de champions européens."

Bom sinal. Até certo ponto. Há que dizê-lo com uma certa frontalidade: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não vá uma certa esquerda passadista (ou direita emergente!) aproveitar esta ideia aqui em Portugal, para acenar com um iberismo bacoco e manter a vida da PT tal qual a temos conhecido até hoje, em nome da constituição de um "campeão europeu", que na verdade é um verdadeiro flop de gestão, e um atentado aos consumidores.

Um mal atávico de Portugal é que o patriotismo apenas é falado quando convém a alguém justificar a sua preguiça e uma reforma segura....


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